Sunday, December 30, 2012

Que tarde em São Caetano

Na busca de melhor qualidade de vida e para morar mais próximo ao trabalho, poucos meses antes da cidade ser palco de um jogo inesquecível, minha família e eu nos mudamos para São Caetano do Sul.

Depois do título do brasileirão de 2002 e do vice-campeonato em 2003, o Santos tentava, com todas as forças, levantar o oitavo título brasileiro, algo que parecia quase impossível pela vantagem de 12 pontos que o Atlético Paranaense abriu. Essa vantagem levou o time curitibano a instalar um painel com uma contagem regressiva de dias para o título nacional daquele ano...

Mais um roteiro futebolístico que, quem não vivenciou, achará que é invenção: Mesmo com nosso maior ídolo afastado a maioria dos jogos, por exigência dos sequestradores de sua mãe, jogo após jogo, o Santos conseguiu diminuir essa vantagem e, chegou ao penúltimo jogo do campeonato, somente à 2 pontos do líder. 

Exatamente no mesmo momento em que o São Caetano recebia o Peixe em 12 de dezembro de 2004, acontecia no Rio de Janeiro um confronto entre Vasco X Atlético Parananese. Além da disputa direta pelo título, esse jogo tinha um outro tempero adicional: os presidentes de ambos os clubes eram inimigos políticos e, como derrotar o Atlético Paranaense era algo muito importante para o dirigente vascaíno, muita coisa coisa extra-campo aconteceu, como permitir que a torcida paranaense entrasse no estádio somente no segundo tempo... E, como essa briga nos interessava diretamente, todos os torcerdores estavam com os olhos em São Caetano e com os ouvidos no Rio...

Jogo importante ao lado de casa é igual a um programa imperdível. Esse foi o argumento que usei para levar amigos e parentes ao estádio.Não me lembro de detalhes do jogo, mas lembro da sensação em conhecer o simpático estádio do Azulão, lembro do clima amistoso de um jogo de (quase) uma torcida e, principalmente, do lindo domingo de sol, daqueles dias em que nada pode dar errado pois o cenário perfeito já estava montado.

Levamos um susto com uma bola na trave, mas não demorou muito para encaixamos nosso jogo e dominar o adversário, até que saiu o primeiro gol dos pés de Elano. Enquanto isso, em São Januário, continuava 0x0, já éramos líderes mas não dava para bobear. Aumentamos para 2x0, com o centésimo gol do peixe no campeonato, que time ! Tão habilidoso quanto o de 2002, mas muito mais maduro.

Basilio, o artilheiro errante, aumentou. 3x0, vitória garantida em São Caetano, agora as atenções eram todas no jogo do Rio, torcendo para o time que quase contratou o nosso Rei. Quando nada estava acontecendo em São Caetano (acho que um dos goleiros ia bater um tiro de meta), de repente, a torcida se levanta e comemora um gol, quem não estava com seu rádio não sabia o que era e, aos poucos, a informação foi chegando, passando de boca em boca, a uma velocidade incrível, era gol do Vasco ! O Anacleto Campanella foi pequeno para tanta felicidade !

E foi logo após o gol que ninguém que estava em São Caetano viu, que presenciai uma das cenas mais bonitas em um estádio de futebol: o sol de início de verão iluminando a torcida santista que rodava suas camisetas brancas acima da cabeça enquanto entoava o hino do glorioso, simplesmente de arrepiar. 

Quando olho para o lado, vejo meu pai emocionado dizendo: 'me lembra a Vila nos anos 60... depois de mais de 30 anos sem pisar em um estádio, vim presenciar esse espetáculo'.

Exorcisamos de vez o fantasma e, presenciamos juntos, nosso time ser campeão bem na cidade que escolhi para morar.

O último jogo era contra o Vasco e a diretoria do clube carioca mandou o time reserva para cumprir tabela (para não correr o risco do Atlético virar na última rodada). Saimos de São Caetano com uma mão na taça e colocamos a outra mão em São José do Rio Preto, coisas que a história oficial se encarrega de contar.




Vejam que bacana a matéria do Globo Esporte de 13/12/2004.. Eles conseguiram retratar um pouco do que vivi em São Caetano

http://www.youtube.com/watch?v=8348M7VNwVg

Saturday, December 29, 2012

Voltamos a brilhar...

Domingo, 15 de dezembro de 2002, meu filho completava 5 meses de vida e, apesar de quase verão, a temperatura ia caindo a medida que o horário do jogo se aproximava.

A confiança de ganhar era abafada pela lembrança ainda fresca dos dois últimos anos, em que o São Paulo sagrou-se campeão paulista do ano 2000 com um empate contra o Santos e o famoso gol do Ricardinho faltando 40 segundos para terminar o jogo, nos tirando a oportunidade de disputar o título paulista de 2001.

A temperatura seguia caindo e a tensão aumentando...

É verdade que estávamos no rumo certo, nos classificamos em oitavo lugar (depois em uma combinação de resultados inimaginável) e, logo de cara, enfrentamas o 'todo poderoso' São Paulo que se classificou com 14 pontos a frente do segundo colocado, resultado? vitória Santista maiúscula nos dois jogos, com direito a comemoração do Diego em cima do escudo tricolor em pleno Morumbi. Depois de passar pelo Gremio (3 X 1 na Vila e 0 X 1 no Olímpico) estávamos aptos para enfrentar o Corinthians na grande decisão, mas o time adversário era forte e experiente, enquanto o nosso era habilidoso e extremamente jovem, se bem que, naquele mesmo ano já tínhamos batido neles por 4 X 2 na primeira fase do Brasileirão, mas agora eram as finais...

Pra ser sincero, não me lembro nada do primeiro jogo, eu sei que foi 2 X 0, mas o resto se apagou da minha memória.

Eu assistí essa partida na minha casa, isolado, para preservar meus filhos do nervosismo que toma conta de mim sempre que peixe entra em campo... Além do nervosismo, cultivei um hábito de ver os jogos longe do meu pai, pois SEMPRE que assistíamos os jogos juntos, o resultado nunca era favorável... ok, pode ser um pouco de superstição que foi se consolidando durante os anos 80 e 90, mas é melhor não dar sopa para ao azar, afinal 'não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem'...

O futebol é apaixonante pelos roteiros que se criam, muito além da imaginação de qualquer um e, esse jogo, foi mais um exemplo disso... antes do segundo minuto, um dos nossos melhores jogadores, se machucou e pediu para ser substituído, nosso técnico, que dava a maturidade que os meninos não tinham, foi expulso por um ato quase infantil, ou seja, se meu filho ouvir meu relato sobre esse jogo, certamente ele falará: 'meu velho inventa cada história...'

Mas quem presenciou as pedaladas do Robinho sabe o que estou falando.. no meio do primeiro tempo ele tira um coelho da cartola e nos coloca em vantagem, uma vantagem frágil e que deu o tom do jogo: corríamos o tempo todo sob o fio da navalha.

No meio do segundo tempo, meu pai aparece para ver o final do jogo comigo e 'comemorar' o título já ganho (para ele). Assim que ele entra na sala, o Corinthians empata o jogo, não deu para terminar a discussão de porque não deveríamos ver o jogo juntos, eles marcaram o segundo. Pronto, faltava apenas um para eles serem campeões e, a qualquer momento, aquele fatídico gol do Ricardinho, poderia reaparecer...

Foi aí que meu pai se retirou e o Robinho roubou a bola na esquerda, deu uma finta incrível em cima do de dois marcadores rolou a bola para o Leo terminar com a agonia: 3 X 2 ! Agora não dava mais tempo, esse gol nos deu o sétimo título brasileiro ! Depois de uma Conmenbol e uma Rio-São Paulo criticadas, ganhamos um Brasileirão e voltamos a brilhar...